“O principal requisito para adquirir o
autoconhecimento é um amor puro. Buscai o conhecimento por puro amor, e o
autoconhecimento finalmente coroará o esforço.”
H. P. Blavatsky
Não existe nada mais
compensador e prazeroso na vida do que estar atento e consciente aos nossos
próprios processos internos, nossas próprias armadilhas inconscientes. Vivemos
uma série de episódios diários, como protagonistas ou não, e muitas vezes não
nos damos conta do que realmente estamos fazendo e principalmente de que forma
estamos agindo ou reagindo a algumas situações, que querendo ou não, atravessam
nosso caminho. Este mês aconteceram alguns fatos em minha vida, que parei para
refletir muito profundamente e por isso, penso ser pertinente relatar algumas
reações que são próprias de todos nós. Quando escolhemos o caminho espiritual
como prioridade em nossas vidas, devemos saber que uma série de provações
acontecerá para sermos testados em nossos limites, até para que os Mestres
possam saber com total propriedade, até onde podem ou não contar conosco. Se
estivermos preparados, reagiremos de uma forma, senão, reagiremos de outra. O
mais importante em todo processo de vida, ou seja, em todo processo evolutivo, é
que devemos estar atentos às nossas motivações inconscientes. Todos os que
escolhem o caminho espiritual possuem a vontade de servir. Mas o que não
devemos perder de vista é que cada um de nós tem uma função nesse servir, que é
naturalmente criada a partir da forma e do funcionamento de nossa personalidade
e escolha de nossa alma. Podemos funcionar nesse serviço sendo prestativos,
buscadores, sábios, videntes, reflexivos, benfeitores, e muitas outras coisas.
Como falei anteriormente, todos temos uma função relacionada à nossa forma de
funcionamento e escolha. Quase sempre sabemos sobre essa função no que diz
respeito à personalidade, no entanto, quando falamos em alma, nossa percepção
muitas vezes se confunde.
Percebi que, quando o que
sempre sonhamos está prestes a acontecer, muitos dos nossos sentimentos
inconscientes afloram com grande força, e nos colocam facilmente em situações
que pensávamos estar resolvidas. Processos infantis afloram como a sujeira
emerge do ralo quando está entupido. Nesse momento, a única coisa que podemos
fazer é enfrentar o odor incomodativo e a sujeira inevitável bem diante de nós.
Os principais sentimentos que enfrentamos nesse nosso processo evolutivo, sem
dúvida são os nossos medos. E sem medo de errar, eu afirmo que em toda busca e
processo evolutivo, seja individual ou coletivo, existe a necessidade de nos
depararmos com a nossa sombra, com aquilo que mais nos atemoriza, e certamente
é do que mais nos atemoriza que mais fugimos. Não pense você meu caro leitor,
que quando escolhemos esse caminho estamos livres e protegidos desses
confrontos, muito pelo contrário. Nossa capacidade de suportar algumas
situações é testada frequentemente, até o momento que nos tornamos fortes e
algumas situações que anteriormente eram limites para nós, se tornam
corriqueiras. Escolher a Senda da Compaixão, o serviço à humanidade, ou seja, o
trabalho junto à Grande Fraternidade Branca é maravilhoso, mas devemos saber
que as provações são constantes até que nos tornemos absolutamente úteis para
esse serviço. Todos sofremos de medo agudo, uns mais, outros menos, mas
inevitavelmente, em nossas provações durante a vida, devemos nos confrontar,
estando nessa senda ou não, com nossos fantasmas, nossos demônios pessoais,
nossa mais terrível sombra. E nesse momento, nossa coragem e capacidade de
entrega são testadas. Ah! A entrega parece ser um dos maiores obstáculos
existentes em nossas almas, porque ela nos remete ao teste, ao grande teste do
desapego e de nossa fé!
Somos testados quase sempre com
o que há de mais precioso em nossas vidas. E nesse processo de aprendizado real,
do desapego e entrega, não podemos exercer nenhum controle para não gerar medo
e ansiedade. O único controle que podemos exercer, é sobre a disseminação de
nossos medos e angústias, esses sim devem ser controlados, dominados,
subjugados e finalmente transformados. Como se faz isso? Não é tão difícil
quando temos consciência do que deve ser apreendido. Devemos saber o que é,
qual a origem e só nesse momento poderemos olhá-lo nos olhos e ter a certeza
que ele não passa de uma forma pensamento criada por nós mesmos, que o nosso
trabalho não pode nem deve ser o de destruí-la, mas sim de criar uma forma
pensamento oposta àquela criada, e aprender, a partir da conscientização, o
controle sobre a criação desses pequenos demônios que infestam nosso dia a dia
de medos e incertezas. Criamos sim nossa própria realidade a partir de nossos
pensamentos, que são responsáveis pela criação dessas formas pensamentos, que
mais cedo ou mais tarde voltam para nos testar. Essa é mais uma passagem pelo
umbral na senda espiritual, o enfrentamento com nossos demônios pessoais,
criados a partir dos nossos sentimentos e pensamentos e se você escolheu esse
caminho, saiba que ele não é feito apenas de flores. Pois até que as flores
cresçam e perfumem plenamente as nossas
vidas, devemos semear a terra e colocar as mãos no adubo puro que nós mesmos
criamos para nós. Devemos apenas aprender, nesse processo, a transformar o que
há de mais negativo e assustador na grande possibilidade de florescimento.