sábado, 16 de fevereiro de 2013

Por que as mudanças assustam tanto?



  Por que as mudanças nos assustam tanto?

"A transitoriedade das coisas que você mais estima pode inspirá-lo a buscar algo que não possa ser tirado". Tartang Tulku

Acredito que você concordará comigo se eu disser que a mudança costuma ser um tema um tanto difícil de assimilar. Mudança é uma palavra que insere em si sentimentos difíceis de elaborar. Mas o principal deles, e o mais temido, é o medo da morte. Não exatamente o medo da morte física, que é a última das mortes que experimentamos em nossa passagem por este planeta, mas da morte ou transformação psíquica que antecede as mudanças efetivas e visíveis que fazemos em nossas vidas. Sim, porque quando mudamos alguma coisa em nossas vidas, é certo que alguma coisa se transformou primeiramente dentro de nós.

Mas por que é sempre tão difícil pensar na morte e nas mudanças? Por que a morte exerce tanto fascínio e temor em nossos corações? Os romanos tinham o seguinte provérbio: memento mori, que quer dizer: lembre-se que vai morrer.

Se você parar para refletir sobre a morte, perceberá que a cada momento, a cada minuto, tudo está morrendo abrindo espaço para o novo entrar. É a velha e conhecida lei da transitoriedade, que nos ensinam os orientais mais tradicionais.

O que quero dizer com isso é que, por trás de toda dificuldade de aceitação dessa inevitável lei, está nosso medo ancestral de morrer, ou seja, toda mudança evoca nosso instinto básico de sobrevivência e lutamos bravamente, para preservar situações que, na maioria das vezes destroem nossos melhores sentimentos e emoções, por medo de morrer.

Mas o que não percebemos é que, no desespero de preservar tudo o que construímos, seja um trabalho, um casamento, uma profissão, morremos um pouco a cada dia, na ilusão da preservação da vida. Entregar-se à vida e a tudo o que ela pode nos trazer de novo, inclusive à possibilidade da morte, é nosso maior desespero. Abandonar-se. Por que isso é tão difícil e desesperador? Mesmo um abandono temporário, como a pratica da meditação, por exemplo, é desesperador para muitas pessoas. E dizemos: "meus pensamentos não me deixam em paz, não consigo me entregar, esvaziar, silenciar".

Sentimos medo. Somos todos construídos pelo medo. Medo da vida, medo da morte, medo do novo.

Se definitivamente, compreendermos que toda experiência é impermanente, que nosso trabalho será maravilhoso enquanto nos der prazer e alegria, que nosso casamento será eterno enquanto o amor e o respeito prevalecerem, e que quando isso deixar de existir, devemos buscar outras fontes de felicidade e alegria, abrindo espaço para que o novo penetre novamente nossa alma preenchendo-a de alegria e êxtase.

Quando pudermos compreender essa maravilhosa lei, nesse momento, e somente nesse momento, poderemos encontrar verdadeiramente nossa felicidade. Essa lei, da qual não podemos fugir nem evitar, faz com que nossa vida tenha movimento. É a grande lei que trabalha a favor da evolução, pois ela nos atira de experiência em experiência, sem descanso, até que um dia finalmente compreendemos que tudo o que buscamos está bem dentro de nós. E isso nunca muda. Somente quando nos sentimos livres, quando temos a coragem de arrancar algumas máscaras que fomos obrigados a vestir, algumas mais cristalizadas do que outras.

Quando deixamos de aceitar alguns papéis impostos, começaremos a construir uma verdadeira liberdade, que brota do âmago de nosso ser interior, de nossa alma, do que há de mais profundo dentro de nós. Não falo de uma falsa liberdade que ainda obedece a interesses sociais, mas a verdadeira liberdade de ser, de seguir seu verdadeiro destino que é ser você mesmo, sem máscaras, sem estereótipos. É claro que esse estado implica em sofrimento até que se encontre o êxtase. Implica em solidão, em contato com a dor do descontrole sobre todas as coisas e pessoas que tentamos desesperadamente controlar. Requer o aprendizado e o exercício da maior dificuldade humana, e a maior qualidade necessária para o desenvolvimento espiritual, que é o desapego.

Todos os esforços que fizermos em direção contrária ao desapego, ao descontrole, à entrega, serão em vão, pois são contra o princípio básico da vida. Procure e pratique o silêncio, e nele tente encontrar esses sentimentos, carregados dos medos e desesperos que são de todos nós. Não tenha medo de ficar sozinho com você mesmo, pois você nunca estará sozinho, já que seus sentimentos são os sentimentos de todos nós.

Cada um de nós deve conquistar sua própria solitude, que não deve nunca ser confundida com solidão. Solitude é um suave estado e sentimento de prazer e liberdade que nos traz a ausência do medo de estar só.


About Me

Eunice Ferrari reside em São Paulo, é psicoterapeuta, astróloga, ocultista, consultora, coordenadora de cursos e praticante de ioga e meditação. Graduada em Comunicação e Artes, é especialista em Psicoterapias Corporais Neo Reichianas pelo Ágora (Núcleo de Estudos Neo Reichianos), Brasil/Alemanha, e pela Sobab (Sociedade Brasileira de Análise Bioenergética), filiada ao International Institute of Bioenergetic Analysis, Nova York, de Alexander Lowen, É formada ainda em Terapia Sacro Craniana e em massagem e relaxamento na metodologia de Phetö Sandor. Terapeuta Somática em formação pelo Instituto Brasileiro de Biossíntese e membro do International Institute for Biosynthesis of Zurich Switzerland. Também é colaboradora da editora Qualidade de Vida, criadora e locutora de CDS de meditação e poder mental. Para falar com Eunice Ferrari escreva para eunice.ferrari@terra.com.br